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Túnel de desinfecção contra coronavírus é criticado por especialistas

Publicado em: 15 de maio de 2020 Atualizado:: maio 15, 2020

 

O túnel de desinfecção instalado em hospitais da Bahia para minimizar os riscos de contaminação pelo coronavírus em unidades de saúde virou alvo de críticas por parte de especialistas. O Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb) também emitiu um alerta e disse ser contra o uso do equipamento.

Um dos problemas apontados na estrutura é a utilização de produtos químicos que podem provocar irritação na pele. O equipamento conta com uma tubulação de PVC que pulveriza hipoclorito de sódio.

Membro conselheiro do Conselho Regional de Química da Bahia, o professor Diniz Santana afirma que a substância é indicada para a limpeza de estruturas e não para o contato direto com os seres humanos.

“Primeiro, que não existe comprovada eficácia desses produtos para desinfecção em seres humanos. E, mesmo se existisse, a própria Anvisa já se posicionou sobre isso. Existe risco grande, inclusive, de haver processos alérgicos, intoxicação, já que é um produto ofensivo”, disse.

Três túneis de desinfecção são instalados em hospitais de Salvador — Foto: Seplan / Divulgação

Três túneis de desinfecção são instalados em hospitais de Salvador — Foto: Seplan / Divulgação

Diniz Santana se referiu à portaria 38 da Anvisa, publicada neste mês. O texto afirma que não existe produto aprovado pelo órgão para desinfecção de pessoas e que não foram encontradas evidências científicas de que o uso dos túneis de desinfecção seja eficaz.

O Creme segue linha semelhante. Em sua página na internet, o Conselho publicou, nesta sexta-feira, um alerta e recomendou que as câmaras sejam desinstaladas [confira a íntegra da nota no fim desta reportagem].

“Como tal, o Cremeb recomenda que todas estas câmaras de desinfecção sejam imediatamente desinstaladas dos serviços de saúde. Caso venham a ser utilizadas, apenas o sejam em protocolos de pesquisa, registrados em Comitês de Ética em Pesquisa e que seus usuários o façam após autorizarem ser participantes da pesquisa”, diz o Cremeb.

Na Bahia, os túneis são produzidos pelo Senai Cimatec, em parceria com o governo do estado. A instituição informou, em nota [confira a íntegra da nota no fim desta reportagem], que seus túneis atendem às especificações da Anvisa, pois são usados para a desinfecção de superfícies dos equipamentos de proteção individual, e não de pessoas.

“O Projeto Experimental de desenvolvimento do Túnel de Desinfecção do SENAI CIMATEC, realizado em parceria com o Governo do Estado da Bahia, atende adequadamente aos requisitos especificados na Nota Técnica 38/2020 de 07 de maio, da ANVISA, que permite o uso de túneis em ambientes controlados, em serviços de saúde, e para uso exclusivo por profissionais que utilizem equipamentos de proteção individual (EPIs). O túnel não é para ser utilizado na desinfecção das pessoas e, sim, para a desinfecção das superfícies dos EPIs”, afirmou em nota.

O infectologista Robson Reis aponta que o uso dos túneis pode desviar o foco para medidas que possuem maior impacto.

“Esses túneis de desinfecção podem trazer a falsa sensação de segurança para as pessoas, que podem deixar de lado outras atitudes que seriam mais impactantes para evitar a contaminação pelo coronavírus. Muito mais importante que a gente possa seguir as medidas de distanciamento social, o uso de máscaras é extremamente importante, nunca, em nenhuma hipótese, levar as mãos a boca ou nariz, tudo isso acaba sendo extremamente efetivo. E higienizar as mãos sempre com água e sabão e álcool em gel”, afirmou.

Atualmente, o túnel de desinfecção foi instalado em hospitais de Salvador e também no Hospital Calisto Midlej Filho, em Itabuna, no sul do estado.

De acordo com o Senai Cimatec, os túneis funcionam como barreiras adicionais na proteção das equipes de saúde nos hospitais.

Por outro lado, e conforme a recomendação da ANVISA, o hipoclorito não deve ser utilizado diretamente sobre o corpo e sim sobre superfícies. O objetivo do projeto é exatamente reduzir a contaminação na superfície dos EPIs, em aplicação exclusiva para hospitais e para os profissionais de saúde, antes da etapa de desparamentação (retirada dos EPIs).

Até a manhã desta sexta-feira (15), a Sesab havia registrado 6.955 casos de coronavírus no estado, com 262 mortes. Um total de 643 profissionais da saúde foram confirmados para Covid-19.

Há outro túnel de desinfecção instalado no Abrigo Dom Pedro II, de responsabilidade da Secretaria de Promoção Social e Combate a Pobreza (Sempre).

Questionada sobre o parecer técnico da Anvisa, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que as recomendações da agência não têm caráter de obrigatoriedade e disse que uma equipe técnica está verificando a “aplicabilidade e pertinência no âmbito do município”.

Confira a nota do Senai Cimatec na íntegra

“As cabines de desinfecção são equipamentos utilizados em larga escala nas mais diversas cidades do mundo, e passaram a ser implantadas no Brasil nas últimas semanas.

Por mais que o seu uso não possuísse eficácia científica delimitada com exatidão, gestores públicos instituíram a utilização das cabines como medida de precaução, de modo a garantir ao máximo a proteção da população frente à epidemia de COVID-19, e se somou entre os inúmeros esforços da prefeitura para combater o coronavírus.

Ocorre que em momento bem posterior à sua implementação por parte de muitos municípios, inclusive pelo próprio Governo do Estado da Bahia, a Anvisa se manifestou por meio de sua Nota Técnica nº 51, de 13 de maio de 2020, que não recomenda as cabines por entender que o risco de intoxicação, por menor que seja, não compensaria um procedimento de desinfecção que não possui comprovação científica.

A Nota Técnica da Anvisa não tem caráter de obrigatoriedade, tratando-se de um conjunto de recomendações que, no momento, está sendo avaliada por uma equipe técnica para verificar a sua aplicabilidade e pertinência no âmbito do município”.

Confira a nota publicada pelo Cremeb

“O Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb) vem a público compartilhar o Parecer da Câmara Técnica de Medicina do Trabalho, emitido em 13 de maio, sobre as câmaras de desinfecção anunciadas por representantes do governo do estado da Bahia, e que estariam sendo instaladas em hospitais públicos.

Estas câmaras, através da aspersão de produtos químicos sobre os profissionais, supostamente teriam o poder de diminuir as taxas de contaminação de profissionais de saúde que estivessem trabalhando no enfrentamento à Covid-19.

Ocorre que esta hipótese não encontra fundamentação científica e coloca seus usuários sob risco. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Conselho Federal de Química alertaram e a Câmara Técnica de Medicina do Trabalho do Cremeb ratificou que não existem dados de segurança no que se refere a dose, concentração e frequência de utilização de produtos químicos (peróxido de hidrogênio, hipoclorito de sódio, amônia quaternária ou ozônio) para utilização direta em pessoas. A situação pode acarretar ainda uma maior susceptibilidade individual e risco de desencadeamento de reações de sensibilidade dérmica e respiratória.

Como tal, o Cremeb recomenda que todas estas câmaras de desinfecção sejam imediatamente desinstaladas dos serviços de saúde. Caso venham a ser utilizadas, apenas o sejam em protocolos de pesquisa, registrados em Comitês de Ética em Pesquisa e que seus usuários o façam após autorizarem ser participantes da pesquisa.

Em sentido mais amplo, consideramos que o gasto na instalação de tais equipamentos não se justifica segundo as normas da moralidade pública, a menos que em protocolos de pesquisa como já citado.

Conclamamos aos poderes públicos e à sociedade para que evitem utilizar tais equipamentos em vias públicas, não façam aquisição de tais equipamentos (ainda que por doação) e denunciem a utilização inadequada e danos decorrentes de tais produtos”.


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