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Reconhecimento facial já prendeu 35 na Bahia; 3 mil são alvos da polícia

Publicado em: 17 de agosto de 2019 Atualizado:: agosto 17, 2019

 

A Justiça buscava por notícias de Henrique Gonçalves dos Santos Nascimento, o Léo, 29 anos, desde 2013, quando foi acusado de um homicídio qualificado em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). O suspeito, que sequer compareceu à audiência, mal podia imaginar, mas era um dos 65 mil rostos cadastrados no banco de dados da Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA) que, desde dezembro, cruza informações, ali armazenadas, com imagens de câmeras de reconhecimento facial – instaladas no aeroporto, rodoviária e estações de metrô da capital.

Alheio ao fato de que um alerta seria enviado às equipes do Centro de Operações e Inteligência (COI), no prédio da SSP, no Centro Administrativo da Bahia (CAB), assim que seus traços faciais fossem filmados por um dos equipamentos, Henrique acabou preso pela Polícia Militar, nesta sexta-feira (31), após circular por uma das 20 estações de metrô da cidade.

Ao todo, já são 35 pessoas presas por reconhecimento facial, sendo duas em Salvador [uma delas no Carnaval] e 33 na Micareta de Feira de Santana. Os alvos da SSP-BA, no entanto, dão uma lista muito maior. Superintende de Tecnologia e gerente de grandes eventos da SSP, coronel Marcos Oliveira afirmou que, ao todo, três mil pessoas são procuradas pelas câmeras. As demais, de acordo com ele, integram o grupo de “indivíduos que têm ou já tiveram dívidas com a Justiça”, além de desaparecidos.

 Embora não seja regulamentado no Brasil, o reconhecimento facial já foi utilizado pelas forças da Segurança também do Rio de Janeiro e São Paulo, onde a Justiça chegou a determinar, em setembro do ano passado, a proibição da prática nas estações de metrô. Há 15 dias, a utilização do mecanismo também foi proibida na cidade de San Francisco, no estado americano da Califórnia, onde autoridades civis consideram a prática “abusiva”.

Em janeiro, parlamentares ligados ao governo federal foram até a China conhecer o banco de dados do país, o maior do mundo, com um milhão de cadastrados. Aposta do plano de segurança para os jogos da Copa América, em junho, a utilização das câmeras em integração com o banco de dados da SSP-BA é resumida pelo coronel Marcos como “apenas mais uma ferramenta que auxilia as polícias na manutenção da ordem nos espaços públicos”. De acordo com o superintendente, não há abuso, se a finalidade é encontrar “apenas alvos com dívida”.

Choque dos traços
O alerta que o sistema emitiu ao COI, que funciona 24 horas, foi de que havia 91% de chance de haver, ali, um foragido da Justiça, suspeito de um homicídio. As equipes, então, entraram em contato com militares que estavam próximos da estação [a SSP não informou qual], para que tirassem a prova dos nove do que indicava o sistema, que, em poucas palavras, funciona assim: ao capturar a imagem da pessoa, transforma os pontos em algoritmos e faz triangulações que estimam a distância, por exemplo, entre o nariz e boca.

O código [ou algoritmo] de cada pessoa é criado, e é a partir daí que a câmera pode reconhecer alguém. Henrique, o Léo, até tentou escapar: ao ser abordado por militares, entregou um RG falso, de acordo com a SSP, mas teve a verdadeira identidade revelada por uma identificação digital instantânea, feita no local. Se Henrique não fosse Henrique, de acordo com o coronel, o sistema não teria emitido um alerta acima de 90%. Ainda segundo ele, a determinação é para que apenas as pessoas que têm “passagens” sejam abordadas. E se, por acaso, o sistema errar, “o policial se desculpa”.

“A polícia não está em todos os lugares, não é onipresente, então, é mais uma ferramenta importante e que vem auxiliando para a diminuição de crimes como homicídios. O marginal está sempre buscando formas de burlar, ele sempre pensa em um jeito. Como ele [Henrique] que entregou um RG falso. Nós temos muita preocupação em não errar, em não ir no alvo errado”, disse, ao considerar que pode haver falhas.

Henrique estava foragido há seis anos (Foto: Divulgação/SSP)

Antes do Carnaval 2019, quando houve a primeira prisão por reconhecimento, o sistema passou por três meses de testes, de acordo com Oliveira. “Na dúvida, a gente sempre beneficia as pessoas. O importante é que saibam que é uma biometria, apenas mais uma coisa a favor da segurança e do cidadão. As pessoas cadastradas têm seus nomes na base da identificação criminal, não ficamos atrás delas, mas são alvo de interesse. É apenas um estado de atenção”, defende.

O coronel comentou, ainda, que o fato de não haver uma regulamentação não torna a prática uma ameaça à sociedade. “Se, por acaso, a pessoa comete um novo delito, essa informação vem junto, somos alimentados com a base da Justiça. A tecnologia está trabalhando com a inteligência artificial e o reconhecimento faz parte desse contexto”, ponderou Oliveira, acrescentando que o banco de dados é atualizado uma vez por semana, pelo menos.

Procurado pelo CORREIO, o Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJ-BA) disse que as informações dos devedores e foragidos são lançadas no Banco Nacional de Mandado de Prisão e, portanto, podem ser acessados pelas forças de Segurança Pública.

Todos são suspeitos?
Embora o coronel Oliveira defenda a premissa de que o “direito de abordar e buscar a identificação de alguém é previsto por lei”, há quem considere o reconhecimento facial uma violação de direitos já que, em grandes proporções ou não, nas palavras do representante da SSP, há a possibilidade de haver erro, pois, a questão “envolve uma máquina e não uma pessoa”. A possibilidade de alguém ser abordado após emissão de alerta errado, por exemplo, segundo Oliveira, não é “nenhum constrangimento”, já que o policial “não é orientado a chegar apontando armas”.

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