Publicado em: 26 de abril de 2022 Atualizado:: abril 26, 2022
As safras de milho e cana-de-açúcar entre 2021 e 2022 ocorreram em direções opostas: enquanto a primeira avançou 29% em relação ao ciclo passado, a produção dos canaviais recuou 12,7%, após uma quebra histórica provocada por longos períodos de geadas e incêndios.
Esse movimento, apontado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) em março, reflete no perfil do etanol brasileiro, permitindo que o produto derivado do milho ganhe espaço no mercado de combustíveis e se mostre vantajoso em muitos casos.
Em abril, do total de 27,55 bilhões de litros de etanol produzidos na região Centro-Sul, 3,47 bilhões de litros foram originados do cultivo dos grãos – um aumento de 34,33% em relação à safra 2020/2021.
Esse avanço consolida a consistência dessa produção, que era de 1,63 bilhões de litros na safra 2019/2020 e deve chegar a 4,2 bilhões em 22/23, de acordo com a União Nacional do Etanol de Milho (Unem).
No sentido contrário, a produção de etanol de cana-de-açúcar na mesma região encolheu 13,36% frente à safra anterior. A maior retração foi registrada no estado de São Paulo, onde a queda em foi de 16,50%, consequência, principalmente, da menor produtividade da lavoura.
A rápida consolidação do milho como matéria-prima do etanol, bem como sua expansão, vem provocando discussões a respeito dos motivos que favorecem esse cenário.
Presidente da Piracicaba Engenharia Sucroalcooleira Ltda., empresa que atua fornecendo tecnologia e engenharia para usinas de etanol e assinou o projeto da primeira indústria de etanol de milho no país, ele cita ainda, entre as vantagens do milho, o tempo de armazenamento, o período de funcionamento da usina e o processo.
Enquanto o milho pode ficar armazenado por períodos de até 2 ou 3 anos, para, só depois, ser processado, a cana exige que o processamento seja feito logo depois da colheita. Uma usina de milho também pode funcionar o ano todo dependendo da planta.
O processo industrial do etanol de milho também é mais fácil de ser conduzido e menos exigente que o da cana; não depende de mão de obra qualificada e pode ser totalmente automatizado. Mais complexa, a cana demanda especialização, o que gera a necessidade de uma quantidade de funcionários cerca de 50% maior.
Contudo, a produção de etanol a partir do milho não está livre de problemas, o que faz com que nem todas as usinas o vejam como vantajoso. Entre os pontos que contam contra o produto aparece o rendimento, a partir da perspectiva da área de cultivo: ao mesmo tempo em que o milho produz mais etanol, ele exige que mais hectares tenham sido cultivados.
utro aspecto que pesa contra o etanol de milho é a maior volatilidade de preço no mercado, visto que a matéria-prima é uma commodity – produtos comercializados em larga escala, em sua forma original ou pouco processados. Nesse caso, as flutuações de preço são mais expressivas que da cana.
Além disso, tendo a vantagem de ser totalmente aproveitado, o milho não gera biomassa, uma das fontes energéticas mais importantes do Brasil. Por exemplo, na produção de etanol de cana, é a biomassa gerada por ela que é usada em seu próprio processamento. No caso do milho, acaba sendo necessária uma fonte de energia complementar.