Funcionário de saúde congolês vacina criança no Centro de Saúde Himbi em Goma, na fronteira da República Democrática do Congo (RDC) com Ruanda, nesta terça-feira (17) — Foto: Olivia Acland/Reuters
“O risco de disseminação na RDC e na região segue muito alto, mas o risco de disseminação fora da região permanece baixo”, ressaltou Ghebreyesus a jornalistas.
Na segunda-feira (15), a OMS havia informado que mais de 1.600 pessoas já morreram desde o início do surto de ebola no leste da República Democrática do Congo, há um ano. O surto foi declarado oficialmente em 1º de agosto de 2018, e é considerado o segundo maior da doença de todos os tempos.
O diretor-geral explicou que “não há evidência de transmissão” do vírus na Uganda e na Ruanda. “Mas, como os dois eventos indicam uma disseminação do vírus, o comitê pediu que eu declarasse emergência de preocupação internacional.”
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus — Foto: Denis Balibouse/Reuters
Ebola não é ameaça global
Robert Steffen, presidente do Comitê de Emergência de Regulações Internacionais de Saúde da organização, explicou ainda que essa “ainda é uma emergência regional e de forma alguma uma ameaça global”.
Por outro lado, a OMS fez um apelo para que os doadores e governos aumentem as doações de combate ao surto, o que também é uma forma de evitar que o vírus se espalhe pela África ou chegue a outros continentes. “Não é arrecadação, é para prevenir a disseminação internacional da doença”, disse o diretor-geral.
“O governo da República Democrática do Congo está fazendo todo o possível. Mas eles precisam do apoio da comunidade internacional. Isso inclui apoio financeiro”, disse Ghebreyesus. “A menos que a comunidade internacional aumente seus fundos para a resposta agora, vamos pagar por esse surto por um bom tempo ainda.”
Funcionários da área da saúde que atuam na contenção do ebola na África — Foto: AFP
Apesar da declaração de emergência internacional, as duas autoridades recomendaram aos países que, além de aumentar suas doações, não fechem fronteiras nem restrinjam as viagens e negócios com a RDC ou os países vizinhos.
“Isso provocaria um impacto terrível na economia da região”, explicou Steffen, ressaltando que as “consequências negativas” do isolamento da RDC e de outros países da região incluem, por exemplo, menos dinheiro para prevenir a disseminação do vírus.
Além disso, segundo ele, o fechamento de fronteiras ou limitação de viagens estimularia a população a buscar alternativas ilegais de cruzamento de fronteiras, que atualmente estão sendo monitoradas de perto justamente para evitar que pessoas saiam do país portando o vírus.
Por isso, a consequência desse isolamento não afetaria apenas os países já afetados, mas aumentaria o risco de outros países acabarem entrando na zona de transmissão do vírus.
“Mais de 75 milhões de checagens para detectar o ebola já foram feitas em fronteiras e outros checkpoints”, ressaltou Ghebreyesus sobre uma das ações locais para prevenir a epidemia.
Segundo o relatório divulgado pelo comitê nesta quarta, 70 pontos de entrada passam por essa checagem e 22 casos já foram detectados dessa forma. Atualmente, a localidade de Beni é a mais afetada por novos casos (leia mais abaixo).
Vacina contra o Ebola é dada na cidade de Mbandaka, na República Democrática do Congo — Foto: REUTERS/Kenny Katombe/File Photo
Nesta quarta-feira, a OMS divulgou uma lista de recomendações para todos os países em relação ao combate da disseminação do ebola.
Para os países afetados:
- Continuar fortalecendo a conscientização da população, principalmente em pontos fronteiriços e com pessoas em risco;
- Continuar a verificação de viajantes nas fronteiras e principais rodovias domésticas;
- Continuar a coordenação com a ONU e parceiros para reduzir as ameaças e mitigar riscos de segurança no controle da doença;
- Reduzir o tempo entre o diagnóstico e o isolamento;
- Estratégias de vacinação para aumentar o impacto de conter o surto devem ser implementadas rapidamente;
- Mapear postos de saúde e fortalecer outras medidas para aumentar o monitoramento e supervisão de infecções hospitalares.
Para os países vizinhos aos afetados:
- Trabalhar com urgência com parceiros para se preparar para a detecção e gerenciamento de casos “importados”, incluindo o mapeamento dos postos de saúde e a vigilância ativa;
- Continuar a mapear o movimento e padrões sociológicos da população para prever riscos de disseminação;
- Aumentar ações de engajamento e comunicação com a comunidade, especialmente nas fronteiras;
- Priorizar pesquisas de vacinas e tratamentos.
Para todos os países:
- Nenhum país deve fechar suas fronteiras ou restringir viagens e negócios, medidas que incentivam o movimento informal e não monitorado de pessoas e produtos entre os países e comprometem as operações de segurança e logística;
- Autoridades nacionais devem trabalhar com as companhias aéreas e outros meiores de transporte e turismo;
- Não é necesário implantar medidas de verificação em aeroportos e outros portos de entrada nos países que estão fora da região.
Entenda como o ebola é transmitido nos seres humanos — Foto: Arte G1
O caso mais recente que levou a OMS a aumentar o nível de alerta aconteceu neste domingo (14) em Goma, uma cidade da República Democrática do Congo que fica na fronteira com a Ruanda. Um pastor saiu da cidade de Butembo e viajou por 200 km em um ônibus até Goma.
Ele esteve em contato com pessoas que portavam o vírus, e foi diagnosticado com ebola no domingo, depois que acudiu a um centro de saúde. Segundo Ghebreyesus na tarde desta quarta, o homem morreu em decorrência da doença. Como a cidade tem mais de 2 milhões de habitantes, fica em uma fronteira internacional e representa um importante eixo de transportes no leste da RDC, autoridades locais e ruandesas ficaram em alerta.
O Ministério da Saúde da RDC afirmou que o homem foi rapidamente diagnosticado e isolado, e que 75 pessoas foram foram vacinadas, entre o motorista e os demais 18 passageiros do ônibus e demais indivíduos que entraram em contato com o paciente.
O outro caso, segundo Ghebreyesus, foi de uma mulher que vivia na RDC e cruzou a fronteira com Uganda para comprar peixe. Depois que retornou, ela também foi diagnosticada com ebola e não sobreviveu.
Atualmente, segundo o comitê da OMS, o número de casos nas cidades de Butemo e Mabalako, na RDC, aumentaram, mas o epicentro do surto é a localidade de Beni, que concentrou 46% dos casos nas últimas três semanas.
G1