Publicado em: 19 de maio de 2022 Atualizado:: maio 19, 2022
A Organização Mundial da Saúde (OMS) acompanha o cenário epidemiológico dos casos de varíola dos macacos confirmados na Europa e nos Estados Unidos.
Até o momento, foram registrados nove casos no Reino Unido, 14 em Portugal, sete na Espanha, um na Itália (com dois outros suspeitos) e um na Suécia, na Europa, além de um caso confirmado nos Estados Unidos.
O primeiro caso confirmado da doença no Reino Unido, que disparou o alerta da OMS, foi informado à entidade no dia 7 de maio. O paciente, que viajou do Reino Unido para a Nigéria, desenvolveu uma erupção cutânea no dia 29 de abril e retornou ao Reino Unido em 4 de maio. A suspeita de varíola dos macacos levou o paciente imediatamente para o isolamento.
A varíola dos macacos (Monkeypox) é uma doença transmitida de animais para humanos (zoonose) silvestre. As infecções humanas incidentais ocorrem esporadicamente em partes florestais da África Central e Ocidental.
A doença é causada pelo vírus da varíola dos macacos, que pertence à família dos ortopoxvírus, e pode ser transmitido por contato e exposição a gotículas exaladas. O período de incubação da varíola dos macacos é geralmente de 6 a 13 dias, mas pode variar de 5 a 21 dias.
A doença é muitas vezes autolimitada com sintomas geralmente desaparecendo espontaneamente dentro de 14 a 21 dias. Os sintomas podem ser leves ou graves, e as lesões podem ser muito pruriginosas ou dolorosas.
O reservatório animal permanece desconhecido, embora seja provável que esteja entre os roedores. O contato com animais vivos e mortos através da caça e do consumo de caça ou carne de caça são fatores de risco conhecidos.
Existem dois grupos de vírus da varíola dos macacos, o da África Ocidental e o da Bacia do Congo (África Central). Embora a infecção pelo vírus da varíola dos macacos na África Ocidental às vezes leve a doenças graves em alguns indivíduos, a doença geralmente é autolimitada.
A taxa de mortalidade de casos para o grupo da África Ocidental foi documentada em cerca de 1%, enquanto para o da Bacia do Congo, pode chegar a 10%. As crianças também estão em maior risco, e a varíola durante a gravidez pode levar a complicações, como varíola congênita ou morte da criança.
Casos mais leves de varíola podem passar despercebidos e representar um risco de transmissão de pessoa para pessoa. É provável que haja pouca imunidade à infecção naqueles que viajam e expostos, pois a doença endêmica é geograficamente limitada a partes da África Ocidental e Central.
Embora uma vacina tenha sido aprovada para a prevenção da varíola, e a vacina tradicional contra varíola também forneça proteção, esses imunizantes não estão amplamente disponíveis e populações em todo o mundo com idade inferior a 40 ou 50 anos não se beneficiam mais da proteção oferecida por programas anteriores de vacinação contra varíola.
Segundo a OMS, no dia 11 de maio teve início o rastreamento extensivo de contatos para identificar pessoas que poderiam ter sido expostas em serviços de saúde, na comunidade e no voo internacional em que estava presente o passageiro do primeiro caso confirmado.
Como o caso foi imediatamente isolado e o rastreamento de contato foi realizado, o risco de transmissão relacionada a esse caso no Reino Unido é mínimo, de acordo com a OMS. No entanto, como a fonte de infecção na Nigéria não é conhecida, permanece o risco de transmissão contínua neste país.
Na segunda-feira (16), a Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (UKHSA, na sigla em inglês) confirmou quatro novos casos de varíola dos macacos no país, após a identificação de outros dois casos no dia 14 de maio.
Dos casos divulgados na segunda-feira, três são de Londres e um caso relacionado no Nordeste da Inglaterra. De acordo com a UKHSA, os novos casos não têm ligações conhecidas com os anteriores.
Os dois casos divulgados no dia 14 são de pacientes que moram juntos na mesma casa e não estão vinculados ao caso confirmado anterior anunciado em 7 de maio. De acordo com a agência, o local e a forma de contágio permanecem sob investigação.
Um dos pacientes está recebendo atendimento na unidade especializada em doenças infecciosas do St Mary’s Hospital, em Londres. O outro está isolado e atualmente não requer tratamento hospitalar.
“Confirmamos dois novos casos de varíola na Inglaterra que não estão ligados ao caso anunciado em 7 de maio. Embora as investigações continuem em andamento para determinar a fonte de infecção, é importante enfatizar que ela não se espalha facilmente entre as pessoas e requer contato pessoal próximo com uma pessoa sintomática infectada. O risco geral para o público em geral permanece muito baixo”, disse Colin Brown, diretor de Infecções Clínicas e Emergentes da UKHSA em comunicado.
A OMS divulgou, na quarta-feira (18), um comunicado sobre o cenário epidemiológico dos casos de varíola dos macacos.
No documento, a OMS confirma a notificação dos dois casos da doença em pacientes que vivem na mesma casa, no dia 13 de maio, e de outros quatro casos relatados no dia 15 de maio entre os participantes dos Serviços de Saúde Sexual, que apresentaram uma lesões de erupção vesicular. No entanto, a entidade aponta que a infecção pode ter acontecido no Reino Unido e não em viagens, como no primeiro caso.
“Em contraste com casos esporádicos com ligação a viagem para países endêmicos, nenhuma fonte de infecção foi confirmada ainda. Com base nas informações atualmente disponíveis, a infecção parece ter sido adquirida localmente no Reino Unido. A extensão da transmissão local não é clara nesta fase e existe a possibilidade de identificação de outros casos”, diz a OMS em nota.
No dia 7 de maio, o Ponto Focal Nacional do Regulamento Sanitário Internacional (RSI) para o Reino Unido notificou à OMS um caso confirmado de varíola em um indivíduo que viajou do Reino Unido para a Nigéria do final de abril ao início de maio e permaneceu nos estados de Lagos e Delta na Nigéria.
O paciente desenvolveu uma erupção cutânea em 29 de abril e retornou ao Reino Unido, chegando em 4 de maio. No mesmo dia, o caso foi apresentado ao hospital. Com base no histórico de viagens e na erupção cutânea, suspeitou-se de varíola dos macacos em um estágio inicial e o caso foi isolado imediatamente, tendo sido assegurado o uso adequado de equipamentos de proteção individual durante a internação.
A varíola dos macacos foi confirmada laboratorialmente por diagnóstico molecular (RT-PCR) realizado a partir de swab vesicular no dia 6 de maio pelo Laboratório de Patógenos Raros e Importados da Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (UKHSA).
As autoridades de saúde do Reino Unido criaram uma equipe de gerenciamento de incidentes para coordenar a identificação e o gerenciamento de contatos. A partir de 11 de maio, o rastreamento extensivo de contatos busca identificar possíveis indivíduos expostos na comunidade, no serviço de saúde e no voo internacional. Até o momento, nenhum relatou sintomas compatíveis com a doença.
Todos os contatos identificados foram avaliados e classificados com base em sua exposição ao caso e estão sendo acompanhados por meio de vigilância por 21 dias após sua última exposição ao caso. A profilaxia pós-exposição com vacinação está sendo oferecida aos contatos de maior risco.
As autoridades nigerianas foram informadas sobre este caso e histórico de viagens na Nigéria em 7 de maio. O paciente não relatou contato com ninguém com uma doença de erupção cutânea ou varíola de macacos conhecida na Nigéria. Detalhes de viagens e contatos dentro da Nigéria foram compartilhados com as autoridades do país para acompanhamento.
No Reino Unido, houve oito casos de varíola dos macacos relatados anteriormente; todas as importações estavam relacionadas a um histórico de viagens para a Nigéria. Em 2021, também houve dois casos de varíola humana importados da Nigéria relatados pelos Estados Unidos.
Desde setembro de 2017, a Nigéria continua a relatar casos de varíola. De setembro de 2017 a 30 de abril de 2022, um total de 558 casos suspeitos foram relatados em 32 estados do país. Destes, 241 foram casos confirmados, tendo sido registrados oito óbitos (taxa de letalidade: 3,3%).
De 1º de janeiro a 30 de abril, foram notificados 46 casos suspeitos, dos quais 15 foram confirmados em sete estados – Adamawa (três casos), Lagos (três casos), Cross River (dois casos), Território da Capital Federal (FCT) (dois casos), Kano (dois casos), Delta (dois casos) e Imo (um caso). Nenhuma morte foi registrada em 2022.
No caso recente, a fonte de infecção permanece desconhecida e o risco de transmissão adicional na Nigéria não pode ser excluído, de acordo com a OMS. Uma vez que a varíola dos macacos foi suspeita no Reino Unido, as autoridades prontamente iniciaram medidas de saúde pública, incluindo isolamento do caso e rastreamento de contatos.
Casos importados de varíola de um país endêmico para outro país foram documentados em oito ocasiões anteriores. Neste caso, o paciente confirmado tem um histórico de viagens do estado de Delta na Nigéria, onde a varíola dos macacos é endêmica.
A OMS orienta que qualquer doença durante a viagem ou ao retornar de uma área endêmica deve ser relatada a um profissional de saúde, incluindo informações sobre todas as viagens recentes e histórico de imunização.
Residentes e viajantes para países endêmicos devem evitar o contato com animais doentes (vivos ou mortos) que possam abrigar o vírus da varíola dos macacos (roedores, marsupiais, primatas) e devem evitar comer ou manusear caça selvagem.
Além disso, a OMS reforça a importância da higienização das mãos com água e sabão, ou desinfetante à base de álcool. Embora uma vacina e um tratamento específico tenham sido aprovados recentemente para a varíola, em 2019 e 2022, respectivamente, essas contramedidas ainda não estão amplamente disponíveis.
Um paciente com varíola dos macacos deve ser isolado e receber cuidados de suporte durante os períodos infecciosos, desde os sinais iniciais até as erupções cutâneas da doença
O rastreamento oportuno de contatos, medidas de vigilância e conscientização sobre doenças emergentes importadas entre os profissionais de saúde são essenciais para prevenir novos casos secundários e o gerenciamento eficaz de surtos de varíola.
A OMS não recomenda nenhuma restrição para viagens e comércio com a Nigéria ou o Reino Unido com base nas informações disponíveis no momento.