Publicado em: 31 de janeiro de 2021 Atualizado:: janeiro 31, 2021
Ivete Sangalo e o marido Daniel Cady criaram um meliponário, espaço de criação de abelhas sem ferrão, durante a pandemia do novo coronavírus, em uma área de Mata Atlântica, em Praia do Forte, que fica na cidade de Mata de São João, região metropolitana de Salvador.
O espaço é cercado de reservas naturais. As abelhas trabalham nas colônias instaladas em caixinhas, que ficam embaixo de uma castanheira.
“5h, nasceu o sol e elas começam. Parece um aeroporto, tipo de Congonhas, avião subindo e descendo, é tipo as abelhas voando”, disse Daniel Cady.
A relação do nutricionista Daniel Cady com as abelhas é antiga. Desde criança conviveu com o avô e o tio, que eram amantes dos animais.
“É uma relação de família, de muito tempo. Meu avô, há 50 anos, era bem conservacionista, em defesa da natureza, ele começou a criar abelhas com ferrão. Aí meu tio Babo, que é conhecido como Babo do mel, em Itinga, seguiu os passos do meu avô e eu indo minha infância toda na fazenda, fui criado com isso”, contou o nutricionista.
Conheça a criação de abelhas sem ferrão da família Sangalo Cady, que surgiu na pandemia — Foto: Reprodução / TV Bahia
Com a pandemia, a ligação da família Sangalo e Cady com as abelhas se tornou ainda mais forte.
“A pandemia foi um catalisador, eu comecei a sentir essa necessidade de me conectar mais com a natureza. Morar em um apartamento e no primeiro mês já vim uma ansiedade, crianças nervosas em casa, aquela coisa do enclausuramento. Iaí nessa sequência eu disse: poxa, eu vou criar as abelhas”, disse Daniel Cady.
“Eu disse: ‘’poxa, eu tenho filhos em casa, eu não vou criar abelhas com ferrão, porque é arriscado, mas tem as abelhas sem ferrão’. Quando eu decidi criar as abelhas, eu fiz um curso com Doutora Gina, um curos básico e vi como era que era”.
Doutora Gina é a professora e bióloga Generosa Souza, considerada uma das maiores especialistas do mundo. A pesquisadora baiana estuda a conservação e criação das abelhas nativas há quase três décadas.
“Sem abelhas, sem alimentos. Olhando para o nosso prato do almoço, do jantar, do café da manhã, 75% veio ali por causa da polemização que as abelhas realizaram”, explicou a especialista.
Família Sangalo Cady cria abelhas sem ferrão durante a pandemia do novo coronavírus — Foto: Reprodução / TV Bahia
Na casa da família Sangalo e Cady, a construção do meliponário começou em maio do ano passado, com uma colônia que Daniel ganhou de um amigo.
“Botei ali uma casinha e comecei. Minhas filhas piraram dizendo: ‘´pai, deixa eu ver as abelhas’”.
“Esse modelo de meliponário é coletivo. Podemos colocar em prateleiras, em diversas caixas, no caso desse para 100 colmeias e é bem prático, porque tudo pode ser feito dentro do meliponário. A divisão, multiplicação, a colheita do mel”, explicou Generosa Souza.
As caixinhas onde as casinhas são instaladas seguem padrões técnicos. Elas foram construídas pelo marceneiro Alisson da Silva Lima, que trabalha na região de Riacho da Onça, que fica no município de Queimadas, na Bahia.
“Eu acho que foi mais prazer a arte. Na verdade, eu sou marceneiro de móveis planejados e a partir de certo tempo na minha vida, eu comecei a criar abelhas assim como Daniel, encontrei um refúgio nas abelhas”, explicou o marceneiro e meliponicultor.
Existem centenas de espécies de abelhas. A mais comum no Nordeste é a Uruçu Nordestina.
“É uma abelha nativa da região. Com tipo de criação já estabelecida, ela já está na lista de abelhas que podem ser criadas aqui na Bahia”, contou a especialista em abelhas.
Família Sangalo Cady cria abelhas sem ferrão durante a pandemia do novo coronavírus — Foto: Reprodução / TV Bahia
Generosa Souza conta que é possível criar abelhas tanto em ambientes urbanos como rurais. Para isso, é preciso seguir protocolos impostos pela Agência de Defesa Agropecuária (Adab).
“Na Bahia nós temos uma legislação. Nós temos permissão para criar espécies de ocorrência na nossa região. Então, temos que seguir aquele protocolo que está na lei, o produtor rural se cadastra na rede de desenvolvimento rural e se for fazer transporte de abelha, no SEAPEC, que é ligado a Adab. Se adotou esse protocolo e qualquer pessoa pode adotar abelhas em ambiente urbano e rural”.
Daniel Cady revelou que as abelhas são mais uma opção de lazer para o filho Marcelo e as filhas gêmeas Helena e Marina.
“Minhas filhas costumam me acompanhar nesse processo. É a parte que elas mais gostam que é colher o mel para fazer molho de salada, fazer qualquer receita que seja. Se fosse abelha com ferrão ninguém estaria aqui agora”, contou.
Nas redes sociais, a cantora Ivete Sangalo já registrou momentos com as abelhas.
“Que deliciosa companhia ! Revoada de nossas Abelhinhas Uruçu. Elas sempre prontas a ensinar e perpetuar. #abelha #moraesmoreira”, disse na legenda.