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Bahia: Vítimas de homicídios são homens, negros e jovens

Publicado em: 6 de junho de 2019 Atualizado:: junho 6, 2019

 

Dados fazem parte do Atlas da Violência, lançado pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública

O pintor Arthur Silva de Jesus Moreira, 23 anos, estava na porta de casa, no bairro de Portão, em Lauro de Freitas, com seu filho nos braços no último dia 18 de maio, um sábado. Conversava com vizinhos e aproveitava o momento com o bebê, de apenas quatro meses. Aquele, contudo, não era mais um final de semana qualquer. Em questão de segundos, homens entraram na rua em um carro, atirando para todos os lados.

Arthur só teve tempo de se jogar no chão para proteger a criança, que saiu ilesa. Ele, entretando, foi atingido na cabeça e morreu dois dias depois. Naquele mesmo dia, mais cinco pessoas morreram no mesmo local. O caso ilustra os dados apresentados nesta quarta-feira (5) pelo Atlas da Violência, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O estudo aponta que homens, negros e jovens – com menos de 30 anos – são a maioria das vítimas de homicídios ocorridos na Bahia em 2017. Dentre as 7.487 vítimas de assassinatos registrados pela pesquisa naquele ano, 7 mil eram homens (93% do total), 6.798 negros (90%) e 4.522  tinham entre 15 e 29 anos (60%). Em todo o Brasil, foram 65.602 mortes em 2017, contra 62.517 no ano anterior – o que corresponde a aumento de 4,9%.

A curva ascendente foi registrada também na Bahia, onde o crescimento foi de 4,4% – em 2016, foram 7.171 assassinatos. Para realizar a pesquisa, Ipea e Fórum Brasileiro de Segurança Pública utilizam dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) informou que desconhece a metodologia empregada pela pesquisa e sequer teve acesso ao conteúdo, “portanto não comentará os dados apresentados”.

Para o coordenador-geral do Coletivo de Entidades Negras (CEN), Yuri Silva, os dados mostram aquilo que já se sabia: “Que a morte no Brasil tem cor, raça, gênero e faixa etária. Que são os homens negros jovens periféricos que são assassinados pela violência urbana e pela guerra do Estado contra a população negra, e que são as mulheres negras as que mais morrem entre as mulheres”.

Dentre as 487 mulheres assassinadas em 2017, 85% eram negras, segundo o Atlas. “Estes e estas, quando não são mortos, sofrem outro tipo de genocídio, que é o encarceramento. O importante para o Estado é tirar de circulação. E o que vemos é que a guerra às drogas – na verdade, uma guerra ao povo negro – é a principal desculpa pra esse fenômeno social abominável”, afirma.

Para ele, os números continuam aumentando porque os atores do “poder público preferem sempre dobrar a aposta em políticas de repressão, mais armamento, mais aparato de violência nas ruas de bairros periféricos e favelas, o que aponta para critérios territoriais racistas na atuação dos órgãos de Segurança”, pontua.

Na opinião de Luiz Cláudio Lourenço, investimentos em políticas básicas, como saúde, educação e transporte funcionam para reduzir os índices de violência no longo prazo. No curto e médio, é preciso investir na resolução dos crimes. “Não se pode tratar questões secundárias. É preciso ter políticas focadas  para o homicídio. Quem são as vítimas, os autores? A partir dessa definição, vamos achar alguma solução”, aponta.

Norte e Nordeste
Os dez estados com maiores índices de homicídios são todos das regiões Norte e Nordeste, de acordo com dados do Atlas da Violência. Na liderança está o Rio Grande do Norte (62,8 mortes por 100 mil habitantes). Depois estão Acre (62,2), Ceará (60,2), Sergipe (57,4) e Pernambuco (57,2). Pará (54,7) e Alagoas (53,7) aparecem antes da Bahia, cuja taxa é de 48,8. Amapá (48,0) e Roraima (47,5) completam a lista dos dez maiores.

Os pesquisadores que elaboraram o Atlas dizem que, nos últimos anos, enquanto houve uma residual diminuição nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, observou-se certa estabilidade do índice na região Sul e crescimento  acentuado no Norte e no Nordeste.

“Possivelmente, o forte crescimento da letalidade nas regiões Norte e Nordeste, nos últimos dois anos, tenha sido influenciado pela guerra de facções criminosas deflagrada entre junho e julho de 2016, entre os dois  maiores grupos de narcotraficantes do país”, dizem.

Outros dois fatores estão relacionados. Primeiro, desde os anos 2000, o Brasil foi assumindo gradualmente posição estratégica como entreposto para exportação de cocaína para a África e Europa, em decorrência da redução da produção na Colômbia e aumento na Bolívia e Peru. Em segundo está o “processo de expansão geoeconômica das maiores facções penais do Sudeste pelo domínio de novos mercados varejistas locais de drogas, assim como novas rotas para o transporte de drogas ilícitas”.

Para Luiz Cláudio Lourenço, do Lassos/Ufba, o dinamismo econômico potencializou o comércio de drogas: “Com mais voos para a Europa, o Nordeste entrou nessa rota. Além disso, a droga passou a chegar também pelo Norte, não só pelo Sudeste”.


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