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25% da população das metrópoles vive em situação vulnerável, com renda de no máximo 1/4 do salário mínimo

Publicado em: 16 de junho de 2022 Atualizado:: junho 16, 2022

A renda média dos mais pobres voltou a cair no 1º trimestre, elevando para 25,2% a fatia da população nas regiões metropolitanas do país que vivem em lares cujo rendimento médio per capita é de no máximo 1/4 do salário mínimo, ou seja, R$ 303 por pessoa.

Em números absolutos, subiu para 21,1 milhões o total de pessoas em situação de vulnerabilidade social nas metrópoles, com rendimentos muito baixos. No final de 2021, o percentual tinha recuado para 23,6%, depois de ter atingido 29,7% em 2020, na fase mais aguda da pandemia.

Os dados estão na oitava edição do boletim Desigualdade nas Metrópoles, antecipado com exclusividade ao g1. O estudo foi produzido por pesquisadores da PUC-RS, do Observatório das Metrópoles e da Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL), a partir dos dados da PNAD Contínua trimestral do IBGE.

Renda do trabalho tem queda

A pesquisa revela também que, entre os 40% mais pobres, a renda média domiciliar per capita proveniente do trabalho voltou a cair após 5 trimestres de recuperação, ficando em R$ 240,79, contra R$ 245,55 no final de 2021, se mantendo abaixo do valor pré-pandemia (R$ 286).

renda média foi calculada a partir da soma de todos os rendimentos provenientes exclusivamente do trabalho, incluindo o setor informal, dividida pelo número de moradores por domicílio nas regiões metropolitanas, com preços deflacionados até o 1º trimestre pelo IPCA.

Impactos da inflação

Segundo o estudo, o aumento da proporção de lares vivendo com até ¼ do salário-mínimo por pessoa explicita o drama social das famílias mais pobres em meio aos impactos da inflação nas alturas e da recuperação ainda frágil da economia, evidenciado a importância de políticas sociais e de programas de complemento de renda.

“O rendimento do trabalho corresponde a 70% da renda domiciliar em geral. Então, esse resultado expressa uma situação de vulnerabilidade social e que pode vir a expressar uma situação de pobreza”, afirma Marcelo Ribeiro, coordenador da pesquisa e professor do IPPUR/UFRJ, acrescentando que as classificações de linha de pobreza costumam incluir também os rendimentos provenientes de auxílios e benefícios do INSS.

 

No Nordeste, percentual chega a quase 40%

Em 12 das 22 regiões metropolitanas do país, o percentual de indivíduos vivendo em lares com rendimento per capita de no máximo R$ 303 ficou acima de 30%. As maiores proporções foram registrados nas regiões de João Pessoa (39,6%), Recife (39,4%) e de Maceió (37,3%), e as menores nas regiões de Goiânia (17,8%), Curitiba (16,8%) e Florianópolis (16,1%).

O estudo estima em mais 80 milhões de brasileiros a população nas 22 principais regiões metropolitanas do país, o que significa aproximadamente 40% da população brasileira.

1,8 milhões de crianças em situação de vulnerabilidade

Outro dado ainda mais preocupante é que a taxa de crianças em situação de vulnerabilidade social nas metrópoles subiu para 29,2%, voltando a se aproximar do patamar próximo ao registrado no auge da pandemia: 32,2%.

No 1º trimestre de 2022, havia 1,8 milhões de crianças vivendo em lares com rendimentos do trabalho inferiores a ¼ do salário-mínimo per capita. “É um número maior que o da população total de Regiões Metropolitanas como Natal, João Pessoa, Maceió ou Florianópolis”, destaca o relatório.

 

“As famílias com rendimento domiciliar per capita abaixo de um quarto salário mínimo tendem a ter um número de crianças maior na composição a composição familiar. É um drama social principalmente por se tratar de crianças de até 5 anos, na medida em que a renda é fundamental para garantir condições de alimentação e desenvolvimento humano e cognitivo. Estamos comprometendo uma geração, com consequências mais adiante no processo de entrada no mercado de trabalho”, diz Ribeiro.

Renda média da população renova mínima histórica

Segundo o estudo, a média de rendimentos nas metrópoles manteve o movimento de queda no início de 2022, atingindo nova mínima de toda a série histórica iniciada em 2012, com o valor de R$ 1.405,73. Na comparação com a situação pré-pandemia (1º trimestre de 2020), o encolhimento é de 10,8%.

O rendimento médio dos 10% mais ricos também caiu de R$ 6.587 no final de 2021 para R$ 6.402 no 1º trimestre. Já a renda dos 50% intermediários ficou praticamente estável, em R$ 1.359 – com todos os extratos ganhando menos que o patamar pré-Covid.

Segundo os pesquisadores, a queda da renda dos trabalhadores é explicada principalmente pela inflação persistente e por uma recuperação ainda lenta do mercado de trabalho, baseada na abertura de vagas de baixa remuneração e geralmente na informalidade.

 

Andre Salata, professor da PUC-RS e outro coordenador do estudo, explica que, em termos nominais, ou seja, desconsiderando a inflação, houve aumento de 1,98% da renda média geral e de 0,58% na renda média dos mais pobres no último trimestre. “Ou seja, em um cenário hipotético de inflação zerada, o poder de compra da população como um todo, incluindo os mais pobres, estaria aumentando”, afirma.

Vale lembrar, entretanto, que a renda média dos 40% mais pobres já vinha caindo antes mesmo da chegada da pandemia. Na máxima da série histórica, no final de 2013, chegou a R$ 343, mas ainda estava em R$ 286 antes da chegada da crise trazida pelo coronavírus. No começo de 2000, na fase mais aguda da pandemia, desabou para R$ 190 e, após 5 trimestres de alta, recuou para o patamar de R$ 240 no 1º trimestre deste ano.

“Nos últimos trimestre a recuperação tem sido muito lenta, e agora a gente tem uma nova queda. A situação é dramática porque é também uma uma empobrecimento de longa duração, e isso traz consequências sociais terríveis, porque as famílias vão queimando recursos para poder sobreviver nesse período, e essa agonia não passa”, afirma o professor da PUC-RS.

 

O estudo destaca ainda que a desigualdade de renda nas metrópoles permaneceu no 1º trimestre em patamares alarmantes: os 10% mais ricos ganharam, em média, 28,8 vezes mais que os 40% mais pobres.

Em razão da renda média dos mais ricos ter recuado com uma taxa ligeiramente maior, a desigualdade medida através do coeficiente de Gini – que varia de 0 até 1, sendo mais alta quanto maior for a desigualdade – recuou para 0,595 no 1º trimestre, conta 0,602 no 4º trimestre, retomando o patamar pré-pandemia.

“Uma redução das desigualdades onde todos perdem não pode ser comemorada como aumento da equidade social”, resume Salata.

 


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